Linha de trem Perus-Pirapora aguarda verba

Terça-Feira, 22 de Julho de 2008

O Estado de S. Paulo

Locomotiva Princesinha se prepara para voltar

Linha de trem Perus-Pirapora aguarda verba de créditos de carbono da Prefeitura para ter mais um trecho recuperado e retomar viagens

Moacir Assunção

O apito toca, trazendo de volta a nostalgia das viagens em maria-fumaça. A locomotiva movida a vapor, uma Decouville Ainé francesa fabricada em 1912, dona do curioso apelido Princesinha por causa de sua forma arredondada, sacoleja lentamente, levando um vagão com espaço para cerca de 20 passageiros. Em pouco tempo, essa cena, hoje apreciada somente por poucos interessados, pode se transformar em um passeio turístico de trem em São Paulo, aberta a visitantes dentro de um projeto também ambiental.

Por enquanto, foram restaurados somente 5 quilômetros de possíveis 20 - ainda assim em trechos entrecortados. Mas a perspectiva dos militantes do Instituto de Ferrovias e Preservação do Patrimônio Cultural (IFPPC) é que a estrada de ferro possa transportar passageiros regularmente com mais 5 quilômetros recuperados, o que a tornaria operacional.

Na semana passada, o Conselho Municipal de Meio Ambiente concordou em destinar à restauração da ferrovia, desativada em 1983, uma parcela dos créditos de carbono a que a Prefeitura terá direito com a desativação do antigo Lixão de Perus (desde que seja resolvida a questão fundiária). Isso deu um novo alento ao grupo, que conta com poucos patrocinadores. O principal é a fábrica de cosméticos Natura, que restaurou um quilômetro da linha férrea dentro de sua fábrica, em Cajamar, na Grande São Paulo. A esperança do diretor da ONG, Paulo Rodrigues, é despertar o interesse de outras empresas da região pelo projeto, que promete levar à região uma proposta de turismo ambientalmente correto, além de gerar renda e trabalho à população local.

"Estamos mais perto de ver a ferrovia acontecer. É um projeto que desperta a atenção de todos os interessados em trens e na proteção da natureza. Estamos lutando há sete anos pela instalação da linha", afirmou Rodrigues. Por enquanto, há quatro quilômetros restaurados em Perus e um em Cajamar, com intervalos no meio.

A proposta, de acordo com Rodrigues, é construir cinco estações temáticas - todas no estilo clássico inglês - que homenageariam a região e fariam referências a outras ferrovias desativadas. Entre o acervo de 19 locomotivas do IFPPC, a segunda maior do mundo na bitola (largura do trilho) de 60 centímetros, há algumas que pertenceram à Ferrovia da Cantareira, eternizada por Adoniram Barbosa na canção Trem das Onze.

O projeto prevê a construção das estações Mineral, que relembrará a história da extinta Companhia Brasileira de Cimento Portland, responsável pela construção da ferrovia; a Gaia, dentro do Parque Anhangüera; a Futuro, dentro da Natura, que fará uma interface entre o passado e o futuro, representado pela moderna empresa; a Memória, com lembranças das linhas férreas extintas; e a Portal-Anhangüera, ao lado da rodovia de mesmo nome. Cerca de 22 mil passageiros devem ser transportados mensalmente e mais de 200 empregos criados de imediato.

HISTÓRIA

A estrada de ferro foi construída em 1914, em bitola de 60 centímetros, para o transporte de romeiros até Bom Jesus de Pirapora, destino ao qual jamais chegou. No km 15, foi desviada para Cajamar e usada como uma ferrovia industrial, transportando calcário para a fábrica de Cimento Portland, em Perus. Acabou desativada em 1983. Quatro anos depois, a Perus-Pirapora foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), mas a deterioração avançava a passos largos. Em setembro de 2000, o IFPPC obteve do herdeiro da fábrica, Antônio Abdalla, a cessão em comodato das máquinas, na luta para impedir que se deteriorassem.

"Não vejo a hora disso tudo voltar a funcionar como antes", comentou Nelson Bueno de Camargo, também diretor do IFPPC. No seu caso, trabalhar com a ferrovia novamente vai trazer de volta a história da família. O avô, o espanhol Antonio Garcia, veio de sua terra para trabalhar na extinta São Paulo Railway (SPR), mas acabou se aposentando na Perus-Pirapora.



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