Meias medidas para o lixo

Matéria do Estadão
Meias medidas para o lixo



O atraso na implantação de coleta seletiva eficaz do lixo da cidade condenará moradores de pelo menos dois bairros populosos a continuar sofrendo com a desvalorização de seus imóveis, a poluição ambiental e as ameaças à saúde, por causa do pior dos maus vizinhos: o aterro sanitário. Perus, nas vizinhanças da Serra da Cantareira, a oeste da capital, que desde 1979 é castigado pelos incômodos do Aterro Bandeirantes, abrigará um novo, com capacidade de receber mais de 6 mil toneladas de lixo diariamente. Outro aterro será instalado em São Mateus, na zona leste, onde a população suporta, desde 1992, o acúmulo de 30 milhões de toneladas de lixo, dispostas em montanhas de 150 metros, no saturado Aterro São João.
As concessionárias que coletam aproximadamente 15 mil toneladas de lixo diariamente aguardam apenas as licenças ambientais para implantar os dois aterros, cuja vida útil prevista é de 10 anos. Em entrevista ao jornal Valor, o presidente da EcoUrbis, Ricardo Acar, anunciou investimentos de aproximadamente R$ 400 milhões na instalação do que agora se chama Central de Tratamento de Resíduos (CTR) Leste, o aterro que substituirá o São João a partir de março. A área ocupada será de 1,1 milhão de metros quadrados, desapropriada pela Prefeitura em 1992.

A diferença entre o velho aterro e a Central é uma estação de tratamento do chorume que resulta da decomposição orgânica. No São João, o líquido era coletado e entregue à Sabesp, o que representava grande custo de 70 carretos por dia com o transporte.
Também será realizada, a exemplo do que já ocorre nos Aterros São João e Bandeirantes, a captação do gás metano para geração de energia. Com isso, o empreendimento se torna apto a participar do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), do Protocolo de Kyoto, que estabelece a comercialização de créditos de carbono no mercado internacional. A EcoUrbis pretende alcançar até 30 milhões de euros por ano em créditos de carbono.
Bom para a concessionária. Mas para a cidade de São Paulo melhor seria contar com uma política de resíduos urbanos de longo prazo, que respeitasse o meio ambiente e a saúde pública - uma coleta seletiva corretamente implantada, de porta em porta, em todos os bairros, alternativa apontada por especialistas em desenvolvimento urbano como a mais eficaz para a destinação de resíduos.

Embora 30% do lixo da cidade possa ser reciclado, apenas 1% das 300 mil toneladas produzidas mensalmente é reciclado, e graças ao trabalho de 35 mil carroceiros que, em cooperativas ou de forma autônoma, coletam 15 vezes mais lixo do que o pomposo Programa Socioambiental de Coleta Seletiva de Resíduos Recicláveis da Prefeitura de São Paulo.

A falta de informação da população, a semelhança entre os caminhões que fazem a coleta seletiva e a de lixo orgânico e a falta de atenção dos moradores aos horários de recolhimento são as explicações da administração municipal para o fracasso do programa que, oficialmente, atende 25 das 31 subprefeituras da capital.
Um programa cujo sucesso é condicionado à adesão da população precisa de divulgação constante e maciça, começando por ações educativas e de conscientização, até o cultivo do hábito pelos munícipes.

Os orçamentos da Prefeitura para a gestão de resíduos deveriam prever os investimentos na estrutura necessária para assegurar a coleta seletiva ampla. Desde 2004, São Paulo conta com as mesmas 15 centrais de triagem. Estima-se que pelo menos 20 mil catadores autônomos (os demais fazem parte de cooperativas) circulem pela cidade, evitando que 10 mil toneladas de lixo cheguem aos aterros. Se é correto o cálculo de que cada um deles recolhe 500 quilos de lixo por mês, São Paulo deve estar produzindo o dobro do volume de lixo divulgado.

Não se podem manter a coleta e a destinação convencional de lixo para aterros que duram 10 anos apenas, prejudicando o meio ambiente e a vida de milhares de moradores da cidade.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080831/not_imp233619,0.php



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