Perus Atómico

CAMARGO, W.G.R.

Minerais uraníferos de Perus, SP.

Boletim IGA, v. 2, 1971

p. 86 - 201

Palavras-chave: Depósito mineral

Keywords: Uranium mineral; Uranium ore; Mineral resources

Texto em Português

Texto Completo (PDF) 352.69 MB

Resumo


Este artigo descreve os minerais secundários de urânio da região de Perus, Estado de São Paulo, Brasil. Os minerais podem estar geneticamente ligados às intrusões ígneas da área. Os minerais uraníferos são encontrados em fendas e cavidades dos pegmatitos e granitos turmaliníferos, derivados do magma granítico responsável pela formação do granito de Pirituba. Entretando, rochas metamórficas como micaxistos, anfibolitos e hornfelses podem ser encontrados na área.

Vários métodos de pesquisa foram utilizados no estudo dos minerais uraníferos, não apenas para a identificação das várias espécies minerais, mas também para encontrar novos dados físicos e químicos do próprio mineral. Os seguintes métodos foram utilizados: como técnicas principais microscopia óptica e cristalografia de raios X, e como métodos complementares fluorescência de UV, detecção de radioatividade, espectroscopia de infra-vermelho, comportamento térmico e análises químicas. Doze diferentes espécies de minerais uraníferos foram descritas neste trabalho: autunita, meta-autunita I, meta-autunita II, hidrogênio-autunita, fosfuranilita, mineral “X“, torbernita, meta-torbernita I, meta-torbernita II, uranofânio, beta-uranofânio e opala uranífera. Alguns destes minerais, como a meta-autunita II e a meta-torbenita II, são espécies artificiais obtidas através do aquecimento de autunita e torbernita, respectivamente.

Infelizmente, devido a escassez do material ou pelas dimensões exíguas dos cristais, não foi possível a análise de todos os minerais através de todos os métodos de pesquisa descritos. Incluem-se nesse caso a fosfuranilita, o mineral X e a hidrogênio-autunita. O mineral X, assim provisoriamente designado, é provavelmente uma nova espécie mineral. Suas propriedades físicas e químicas foram completamente investigadas. Entretanto, a pequena quantidade disponível não possibilitou uma análise química aprofundada. No entanto, suas propriedades físicas e algumas análises espectroscópicas indicaram tratar-se de um fosfato hidratado de uranila e provavelmente um metal bivalente, e pertencente ao grupo da fosfuranilita.

Paralelamente à descrição do urânio, os minerais primários de pegmatitos e granitos turmaliníferos foram investigados, devido a evidências de campo que indicavam estas rochas como as fontes prováveis de urânio. Albita, microclínio, turmalina, lepidolita, quartzo e apatita foram investigados através de suas propriedades físicas e químicas. A apatita parece ser a fonte primária de urânio. Este tipo de gênese tem sido relatado em várias partes do mundo, onde íons U4+ substitutem Ca2+ na estrutura do cristal de apatita. O método de determinação de radioatividade revelou uma taxa de 56 ppm U para a apatita de Perus, o que representa uma alta porcentagem quando comparada com o total de U encontrado em outros minerais pegmatíticos.

As águas subterrâneas que carregam CO2 e O2 em solução atacam, oxidam e dissolvem a apatita, formando soluções mineralizadoras que contêm íons de UO22+, Ca2+, HCO3-1 e PO4-3. Através de uma ação neutralizante, em contatocom soluções alcalinas, tais soluções mineralizadoras precipitaram autunita e torbernita. Fosfuranilita foi formada pela alteração de autunita e através da modificação de pH, e o mineral X originou-se pela precipitação de solusões contendo Mg. Uranofânio e beta-uranofânio resultaram da interação de sílica coloidal e fluidos mineralizadores, cujos íons provocaram floculação coloidal. Este mecanismo explica o hábito coloforme e fibroradiado desses minerais. A opala uranífera tem provavelmente origem similar, ou seja, foi formada por floculação de soluções coloidais de sílica em contato com eletrólitos.







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