São poucas as empresas brasileiras cuja história se confunde com a do crescimento do País. Em mais de um século de existência, a Companhia Melhoramentos é uma delas. As primeiras atividades começaram em uma fazenda próxima à capital paulista, região que passou a ser conhecida como Caieiras. Foi a pioneira na fabricação de papel, antes mesmo de ser proclamada a República do Brasil. Também foi a responsável pelo primeiro livro impresso brasileiro, o Patinho feio, além de ser precursora da produção de celulose a partir de eucalipto, um feito que ganhou repercussão mundial na época. Mas a forte concorrência no setor, os altos custos operacionais e o prejuízo acumulado ao longo dos anos fizeram com que a área de papel da companhia mudasse de dono e de nacionalidade. A Melhoramentos Papéis, controlada pela Companhia Melhoramentos de São Paulo (CMSP), foi vendida por R$ 120 milhões para a Compañia Manufacturera de Papeles y Cartones (CMPC), um dos dois principais grupos de papel e celulose do Chile. Na transação, a nova dona ainda assumiu as dívidas de R$ 80 milhões com bancos e outros R$ 200 milhões de endividamento tributário. Dona das marcas de guardanapos Lips, de papel toalha Kitchen e dos lenços Softy's, a empresa faturou R$ 422 milhões no ano passado, mas o prejuízo atingiu R$ 7 milhões. Desde 2005 ela opera no vermelho. Com a venda, a CMSP concentra as operações nos negócios de reflorestamento, editorial e imobiliário.
O valor total desembolsado pela chilena é o mesmo previsto pelo mercado meses trás. Analistas do setor estimavam, em meados de 2008, que o preço de venda do grupo chegaria próximo a R$ 400 milhões. Na ocasião, a empresa havia anunciado a venda de seus ativos por conta de dificuldades financeiras. Além da chilena, a americana Kimberly-Clark e a brasileira Santher estavam no páreo para ver quem conseguiria ficar com a empresa. A estimativa, porém, foi feita antes do início da crise financeira, quando as companhias do setor começaram a perder valor de mercado. "Em 2008, o segmento de papel e celulose teve uma desvalorização de 60%. O valor da companhia não seguiu essa queda", afirma Marco Saravalle, analista da Coinvalores. A Melhoramentos Papéis, com 8% das vendas de papel descartável no País, possui uma produtora de papel em Caieiras e duas fábricas no interior paulista. O analista acredita que abrir mão da área de negócios mais tradicional foi a maneira encontrada para focar esforços nos outros segmentos. "Em momentos de incerteza, como os atuais, a tendência é que ativos mais rentáveis sejam mantidos. Isso é o que está fazendo a Melhoramentos", finaliza o analista.
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