O primeiro leilão de crédito de carbono voluntário da América Latina, a ser realizado pela BM&FBovespa no dia 8 de abril, poderá movimentar cerca de 2 milhões de reais no mínimo se os três lotes ofertados forem arrematados pelos preços mínimos.
"A perspectiva em um leilão como esse é de um máximo de 20 por cento (de ágio)", afirmou Divaldo Rezende, diretor-executivo da CantorCO2 Brasil, divisão brasileira da companhia líder global em serviços financeiros relacionados ao meio ambiente, incluindo mercados de emissões.
Mas se o valor a ser movimentado pela operação com foco no mercado voluntário, mesmo com o ágio esperado, ainda é pequeno perto do mercado regulado de carbono do Brasil, de 460 milhões de dólares ao ano, o pioneirismo do leilão mostra que o país pode se firmar como uma plataforma de vendas de certificados de redução de emissões na América Latina, segundo especialistas.
Isso é algo a ser considerado, em um mercado global estimado em 3 trilhões de dólares para 2020 -atualmente, o Brasil é o terceiro país com mais projetos no setor, atrás de China e Índia, segundo o executivo da CantorCO2.
Entretanto, o mercado regulado, que predomina no país e colocaria os créditos de carbono do Brasil como o 17o produto da pauta de exportação brasileira, é sujeito a trâmites que restringem o número de participantes no negócio.
O mercado voluntário, por outro lado, como o próprio nome diz, independe de metas estabelecidas por países ou pela ONU, que define normas mais rígidas para o mercado regulado.
Este é um dos trunfos do crédito de carbono voluntário, que por ser ofertado por pequenas e médias empresas, com custos mais baixos que o regulado e mais rápido (dez meses contra dois anos do crédito regulado), pode dar força extra aos negócios no Brasil em um momento que mais e mais empresas buscam a sustentabilidade de suas operações.
"O voluntário viabiliza projetos não-elegíveis ao MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), viabiliza projetos menores", afirmou Stefano Merlin, diretor da Carbono Social Serviços Ambientais, que elaborou os nove projetos cujos créditos voluntários serão leiloados pela BM&FBovespa.
São créditos gerados por indústrias que trocaram a utilização de combustíveis fósseis por biomassa em seu processo produtivo.
No leilão do dia 8 de abril, serão leiloados 180 mil toneladas de créditos de carbono, divididos em três lotes, sendo dois com preço mínimo de 10 reais por tonelada, e um com valor inicial de 12 reais/t. Cada lote, de 60 mil toneladas, só pode ser adquirido por um único comprador.
Se a BM&FBovespa está estreando em leilões de crédito voluntário, já realizou outras duas operações para o mercado regulado, em 2007 e 2008, com créditos gerados por projetos em aterros sanitários da Prefeitura de São Paulo, que renderam ao município 26,8 milhões de euros. Os valores por tonelada do mercado regulado, cuja escala dos projetos é maior, são superiores aos do voluntário.
Embora o crédito voluntário seja negociado paralelamente ao mercado regulado, ele também passa por auditorias independentes.
Os certificados são comprados por empresas ou instituições que pretendem neutralizar as suas emissões, agregando valor ao seu produto ao dizer que ele é ecologicamente correto.
Para o leilão do próximo mês, é esperada a participação de empresas brasileiras. Nos leilões de 2007 e 2008, o banco europeu Fortis Bank e a empresa de energia Mercuria Energy Trading S.A., de Genebra, foram os arrematantes dos créditos.
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